Uma vida ou muitas vidas?
Tem gente que acredita que vivemos várias vidas. Tem gente que acredita que vivemos apenas uma e que após a morte há o nada. E tem gente que acredita que temos apenas uma vida e que depois da morte vivemos na paz do paraíso ou nos terríveis tormentos do inferno, para sempre.
E o Espiritismo, em que acredita? Nós espíritas acreditamos na reencarnação. Sabemos da reencarnação por diversos depoimentos de espíritos que nos dão detalhes de suas experiências e também por vários casos de gente que, estando encarnada, recorda-se de suas experiências numa vivência anterior. Se você tiver interesse, Maria, há vários livros espíritas e não espíritas sobre reencarnação e também um bem realizado documentário da Discovery. Basta buscar na Internet, e você verá vários casos, depoimentos e investigações científicas sobre o tema.
Uma curiosidade: há no mundo mais reencarnacionistas (aqueles que acreditam na reencarnação) que descrentes da reencarnação. É que várias religiões asiáticas são reencarnacionistas.
Caso você queira saber um pouco mais sobre o assunto, Maria, há um livro muito bonito — Uma Carta de Bezerra de Menezes (FEB) —, escrito por ele em 1886, quando atuava como médico, e publicado na década de 1920. Nele, aprendemos, por exemplo, que os próprios Vedas (cerca de 2000 a.C.), textos sagrados para os hindus, já traziam várias passagens sobre a pluralidade das existências. Bezerra relaciona ainda inúmeros outros exemplos de povos e culturas reencarnacionistas, passando pela antiguidade e a própria Bíblia.
Reencarnar é o nome que se dá ao processo de viver uma vida, morrer, nascer novamente para uma nova experiência de vida, para, um novo aprendizado. E, ao final dessa experiência, outra vez morrermos, para mais tarde, nascermos. E assim vamos. Encarnando muitas vezes!
Reencarnamos para que sigamos aprendendo. No dia a dia, nos desafios, nas oportunidades, nas dificuldades e na diversidade de experimentos de nossa vida de encarnados, vamos aprendendo a lidar com tudo. Nosso objetivo de longo prazo (e bota longo nisso!) é aprendermos a lidar com tudo e com todos. Chegará o momento em que — veja a magnitude desse aprendizado — saberemos tudo. E nos relacionaremos de modo harmônico com todos. É quase impossível imaginarmos isso, não? Tudo e todos.
Isso não significa que rapidamente nos daremos bem com todos, mas, se pelo menos nos compreendermos, já será um progresso. Grande.
Numa hora aprendemos a ser mais tolerantes. Noutra a ser caridosos. Noutra a ser mais ativos. Noutra a não julgar. Pouco a pouco, de encarnação em encarnação, vamos aprendendo e nos melhorando. Na verdade, é para isso que encarnamos e reencarnamos: vivemos para evoluir, vivemos para nos aprimorar. É como um bom programa para trainees, Maria: vamos passando por todas as áreas e experiências para que aprendamos de tudo um pouco.
Quantas vezes encarnamos? Não se sabe ao certo. Reencarnamos quantas vezes for necessário para nosso aperfeiçoamento. Pararemos de encarnar apenas quando já tivermos evoluído o suficiente e não mais precisarmos das vivências duras que temos nas encarnações.
E por que não evoluímos sem encarnar? Evoluímos, sim. Mesmo quando estamos fora de um corpo físico, como espíritos, evoluímos.
Mas a evolução como encarnados é mais rápida. É que, como encarnado, as experiências são mais intensas e ásperas. Encarnados estamos imersos em dificuldades, novidades e desafios. Temos que trabalhar, cuidar de nossos relacionamentos, cuidar da saúde, das questões sociais, das divergências…
Temos então que agir por nós mesmos: raciocinar, errar e acertar, até achar o caminho melhor. E o caminho melhor varia um pouco para cada um. Uns vão por aqui. Outros por ali. Mas o objetivo e o final de todos é um só: crescimento e melhora. Somos impelidos, pela necessidade, a dar um jeito em tudo. Com isso, desenvolvemos nossa inteligência. Mas apenas desenvolver a inteligência não basta.
Quanto mais sábios, mais sentimos falta de algo mais. E esse algo mais apenas o desenvolvimento moral nos dará. Junto com nosso desenvolvimento intelectual, por inúmeros outros estímulos, somos também instados a exercitar e aprimorar nosso senso de moral. E o que isso significa? Evoluir moralmente significa aprimorar nosso modo de ser, tendo em conta nossos valores. Significa sermos mais justos, mais honestos, mais humildes, mais equilibrados, mais pacientes, mais generosos, mais compreensivos, mais caridosos, mais carinhosos, mais fraternais, mais acolhedores, etc. Isso é evoluir: crescer tanto intelectual como moralmente. E é para fazer isso — evoluir de forma mais eficiente e rápida — que encarnamos sucessivas vezes.
Na reencarnação nascemos cada vez com uma identidade, obviamente em épocas diferentes, talvez em outra cidade, ou mesmo em outro país. Se fomos homens, podemos nascer mulher ou homem novamente; dependendo da experiência que seja mais útil ao nosso progresso. Se fomos pobres numa encarnação, talvez na próxima venhamos ricos. Viveremos o que for necessário para ganhar experiência e conhecimento. Tudo o que for necessário para que compreendamos tudo. Para que cresçamos intelectual e moralmente.
Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar. Esta é a lei.
Johan Goethe (1749-1832), escritor alemão; frase adorna túmulo de Kardec, em Paris