O filme Ela (Her no original) ganhou o Oscar 2014 de melhor roteiro.
Muito merecido!
“Ela” é fascinante por diversos motivos: temática, diálogos, atuação, fotografia. E tem também o mérito de provar que é possível fazer um grande filme sem muitos truques ou orçamento. Traz pouquíssimos atores, nenhum efeito especial, nenhum requinte no guarda-roupa nem na trilha sonora e nenhuma locação cara. Na verdade o filme praticamente todo é composto de cenas de um único ator (Joaquin Phoenix) conversando com uma voz (Scarlett Johansson). E essa voz é de uma máquina, um sistema operacional, um programa de computador. O filme é quase que só isso, um diálogo…e é bárbaro! Mantém a atenção.
Entre várias discussões interessantes e bem estruturadas que o filme propõe, a principal delas é o amor. E nessa discussão – ainda que o filme não seja nem se proponha a ser um filme espírita (longe disso), nem mesmo espiritualista – ele toca em duas definições para o amor que são absolutamente alinhadas com a visão espírita do assunto. Note:
Amando um ser que inexiste no mundo físico:
Theodore (Phoenix) apaixona-se por Samantha (na voz de Johansson) – um personagem criado num software de computador. Samantha, o software, atende tão bem o ideal de amor de Theodore que ele se encanta com ela. Quer conversar com Samantha todo o tempo, alegra-se com e declara-se a ela, e vice-versa. Os dois se amam verdadeiramente. Só que um dos dois, Samantha, não existe no mundo físico. Não vive. Não respira, não anda, não se alimenta, não dorme, não tem corpo… é um ser inteligente, que reage, raciocina e ama, mas que inexiste fisicamente. Lembrou-me dos espíritos. O que são os espíritos senão exatamente isso? Os espíritos somos seres (nós) que raciocinam, reagem, agem e amam, mas que (temporariamente) não têm corpo e não existem na matéria.
O amor que temos pelas pessoas deveria ser exatamente assim: amamos o ser, a inteligência, a reatividade, a interação e não o corpo físico. Assim, se aquele que amamos deixa de existir fisicamente, nem por isso deixaremos de amá-lo. Continuemos a amar o que nunca morre: o espírito. Amemos o pensamento e a fascinante personalidade daquela pessoa que amamos. Amemos a pessoa e não o corpo que morreu.
O amor para todos:
Em um lindo diálogo do filme, Samantha – o software – declara seu profundo amor por Theodore… e por mais 600 outras pessoas! Theodore fica inconformado. Mas Samantha, inteligentíssima, afirma que quanto mais gente ela foi aprendendo a amar, mais cresceu também seu amor por Theodore, e por todos os demais. Afirma que o amor por cada um cresce quando o amor por todos se expande.
Espetacular raciocínio! Absolutamente alinhado com o modo como o espiritismo entende o amor.
Amaremos, com o tempo e conforme evoluamos, a todos. Todos. A humanidade. Ou até mesmo além da humanidade. Esse sim é um grande amor! Muito mais digno de ser chamado de amor que aquele amor pequeno, mesquinho, localizado, fechado numa casta, numa sociedade, numa família ou em meia dúzia de pessoas. Esse é o grande amor que Deus nos oferece: o amor a todos, não exclusivo, não egoísta. Amar em igual intensidade e fraternidade ao nosso cônjuge, ao nosso companheiro, aos nossos filhos, aos nossos pais, aos nossos irmãos mas também aos nossos vizinhos, aos nossos colegas, aos nossos concidadãos, e aos estrangeiros, aos que tem ideologia distinta da nossa, aos de outras religiões e seitas, e aos que discordam de nosso modo de viver e pensar inclusive. Amar a todos.
“Ela” não é um filme espirita. Nem um filme espiritualista.
Mas “Ela” é um grande filme, humanista!
Assista!
(18/03/2014)