E na madrugada de sábado dia 05/04/14 morreu José Wilker, o ator.
Um grande ator. E segundo dizem os que o conheceram, uma grande pessoa.
Morreu dormindo, num infarto fulminante.
Muitos lamentaram que morreu muito jovem, aos 67 anos.
Morreu jovem?
“Mas como sabes se lhe conviria viver por mais tempo ou se a morte lhe foi providencial? Cedo recolheu-se à segurança.” Sêneca
Se estivéssemos no século XII, diríamos que morrer aos 67 anos é morrer muito velho. Morrer jovem naqueles tempos seria morrer aos 12. Morrer velho seria morrer aos 40 ou 50 anos.
Mas hoje em dia, com todos os cuidados que a alimentação, a medicina e os confortos e segurança da tecnologia nos proporcionam, de fato, 67 anos não é idade muito avançada. Morremos cada vez mais tarde, aos 80, 90 ou mais de 100 anos. E isso é bom ou ruim?
Nem bom nem ruim. O quanto vivemos não importa.
O grande filósofo hispano/romano Sêneca, nos explica que o que de fato importa é a qualidade de vida que temos durante o tempo em que estamos vivos nesta encarnação. Alguns morrem aos 37 e tiveram uma vida riquíssima! Uma vida significativa e cheia de realizações. Foram úteis para muita gente, fizeram muita gente crescer, beneficiaram muitos, cresceram eles mesmos nesses talvez poucos anos. Observaram. Educaram-se. Aperfeiçoaram-se. Então viveram muito ou ao menos viveram muito bem.
Outros morrem aos 104 anos, mas é como se tivessem morrido no parto. Na verdade nunca nasceram. Viveram para nada. Nada realizaram. A praticamente ninguém beneficiaram, nem a si mesmos. Não quiseram aprender. Não quiseram agir. Não quiseram enfrentar os dilemas, os riscos e as delícias da vida. Não quiseram comprometer-se… com a vida. São aqueles que passam a vida enganando a vida. Passam a vida esperando sabe-se lá o que. Desperdiçam – e arcarão com as consequências disso – a maravilhosa chance de aperfeiçoamento e ação para o bem que Deus lhes dá. Engana-se quem acha que esses viveram muito.
Então apesar das tantas falas padrão que ouvimos a lamentar a morte do querido e competente José Wilker, parece que ele viveu muito, muito bem. Foi um excelente ator, foi comentarista de cinema, e foi, segundo quem com ele conviveu, um colega generoso, carinhoso, culto e bom. Quando morre alguém assim, deveríamos celebrar a sua vida e não lamentar a sua morte. Morreu porque todos morremos. Morreu porque estava vivo!
Mas poderia ter vivido mais, alguns dirão. Será mesmo? Será possível acreditar que Deus enganou-se ou foi injusto com alguém no tempo de sua vida? Claro que não. Deus não erra, ou, se errou, não é Deus. Wilker e todos nós (exceto os suicidas, eutanasiados e abortados) vamos sempre na hora certa.
“Não há razão para que penses por quanto tempo mais poderias tê-lo tido, mas durante quanto tempo o tiveste.” Sêneca
Morreu José Wilker porque estava pronto para morrer. Deve estar agora cuidando de continuar a sua obra e seu desenvolvimento pessoal, sempre com um olhar carinhoso, caridoso e fraterno para os que estão à sua volta: a humanidade.
(07/04/2014)