Vanessa Andrade, filha de Santiago Andrade – o cinegrafista da Rede Bandeirantes morto pelo disparo de um rojão em manifestação no Rio – deu um belíssimo testemunho do que é uma pessoa que bem compreende a vida e a morte. Veja abaixo um trecho do texto de Vanessa, publicado no jornal Folha de São Paulo de 11 de fevereiro de 2014.
“Esta noite eu passei no hospital me despedindo. Só eu e ele. Deitada no seu ombro, tivemos tempo de conversar sobre muitos assuntos, pedi perdão pelas minhas falhas e prometi seguir de cabeça erguida e cuidar de minha mãe e dos meus avós. Ele estava quietinho e sereno. Éramos só nós dois, pai e filha, na despedida mais linda que eu poderia ter. E ele também se despediu. Sei que ele está bem. Claro que está. E eu sou a continuação da vida dele. Um dia meus futuros filhos saberão quem foi Santiago Andrade, o avô deles. Mas eu, somente eu, saberei o orgulho de ter o nome dele na minha identidade. Obrigada, meu Deus. Porque tive a chance de amar e ser amada. Tive todas as alegrias e tristezas de pai e filha. Eu tive um pai. E ele teve uma filha. Obrigada a todos. Ele também agradece. Eu sou Vanessa Andrade, tenho 29 anos e os anjinhos do céu acabam de ganhar um pai.”
Repare que bonito: apesar do modo violento e sem sentido com que seu mui querido pai foi morto, essa filha não expressa inconformismo, rancor, ódio ou desejo de vingança. Tudo que Vanessa fez na morte do pai foi enternecer-se e agradecer a Deus, ao pai e, vejam só, a todos, a alegria do convívio com seu pai.
Como todos, ela teve alegrias e tristezas. Como todos, ela diz ter tido falhas. Mas como nem todos, Vanessa reconhece e agradece a beleza do convívio que teve junto ao pai.
Que bom quando todos nós formos como Vanessa. Que bom quando todos nós soubermos reconhecer o ganho que é vivermos e convivermos com todos os que estão à nossa volta. Quando isso acontecer, a morte desses e a nossa morte não passarão de apenas mais um belo marco nas nossas vidas. (14/02/2014)